October 23, 2020

 

NTG: neoplasia pouco conhecida é tema de congresso

Danielle Kiffer


   
A neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) é uma doença com nome complicado e pouco conhecida, mas, nos últimos anos, tem feito muitas vítimas. Dados estimam que 20 mil mulheres por ano, no mundo, precisem de quimioterapia e este número pode chegar a 40 mil, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Como, apesar disso, ainda há pouca informação entre profissionais, até sábado, 22 de agosto, realiza-se o XI Congresso Brasileiro de Neoplasia Trofoblástica Gestacional, no Auditório da Amil (Avenida das Américas 4.200, Bloco 3), na Barra da Tijuca. O evento, bianual, conta com o apoio da FAPERJ, e é voltado para a capacitação e treinamento de médicos e profissionais de saúde, de maternidades estaduais e municipais. Nele, especialistas da área relatam progressos, narram dificuldades e mostram alternativas de tratamento.

Segundo o médico Paulo Belfort, presidente da Sociedade Brasileira de Neoplasia e um dos organizadores do congresso, o maior problema da doença no Brasil, cujo nome popular é mola, é a falta de informação e especialização entre profissionais da saúde e a ausência de divulgação e esclarecimento junto à sociedade. “Muitas pessoas jamais ouviram falar de gravidez molar, muito menos de neoplasia trofoblástica. Os médicos, de uma maneira geral, e os obstetras e ginecologistas, em particular, julgam a doença rara, e dela pouco ou quase nada entendem. Na verdade, trata-se de uma doença social frequente, de fácil diagnóstico. Profissionais despreparados geralmente perfuram o útero da paciente em curetagens repetidas e quase sempre desnecessárias, retiram os ovários de mulheres jovens (os ovários tornam-se císticos, volumosos, em cerca de 40% a 50% dos casos) e não sabem como sistematizar o acompanhamento da doença”, afirma.

Para apresentar o cenário mundial da neoplasia, um dos mais importantes participantes do congresso é o professor Ernest Kohorn, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, diretor da International Society for the Study of Trophoblastic Disease (ISSTD) e um dos maiores oncologistas clínicos em atividade. Em parceria com a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo) e a OMS, ele analisa a experiência de todos os centros de referência de neoplasia trofoblástica do mundo e sistematiza a classificação, nomenclatura, regimes de tratamento e tudo que diz respeito à doença.

No Brasil, segundo o médico Paulo Belfort, um dos grandes entraves para o correto tratamento da NTG é a falta de mais centros de referência. “As pacientes, fora dos centros universitários, têm que pagar por todos os exames necessários. Grande parte mora em municípios distantes no Rio, e, por isso, muitas abandonam o acompanhamento e o tratamento por falta de dinheiro até para o transporte. Além disso, tenho visto que na maioria dos hospitais do estado, quando a neoplasia é diagnosticada, simplesmente se faz o esvaziamento uterino e o material obtido não é enviado para biópsia.”

Segundo Belfort, o único centro de referência em neoplasia trofoblástica no Rio de Janeiro, desde 1960, é a 33� Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, da qual ele é diretor e idealizador. Até 2008, Belfort já atendeu e tratou de, aproximadamente, 4.290 pacientes. “Anualmente, em nosso centro de referência, são matriculadas 250 novas pacientes. Deste número, foi constatado que 43% dos casos eram de mulheres que vivem na capital do estado, enquanto 57% provinham de outras cidades: Baixada Fluminense, 50%; Região dos Lagos, 18%; Niterói e adjacências, 12%; e Médio Paraíba, 5%.

A neoplasia trofoblástica gestacional é um tumor maligno que se origina de qualquer tipo de gravidez,  provocando a formação da placenta no útero, no lugar do feto. Pode também ocorrer de forma parcial, quando a mulher chega a gerar um feto, que geralmente morre entre a 8� e a 10� semana. De acordo com Belfort, a mola parcial cura-se espontaneamente em cerca de 90% das vezes. Quando não tratada, pode evoluir para mola invasora, que penetra na musculatura uterina. Em cerca de 30% dos casos, a doença pode ainda sofrer um processo de malignização.

Os fatores de risco são maiores em mulheres de classes sociais mais baixas, devido à alimentação deficiente, com baixo consumo de proteínas e de vitaminas – principalmente a vitamina C –, em mulheres asiáticas, africanas, latino-americanas e índias, ou com menos de 16 anos e com mais de 35. Mulheres com antecedente de gravidez molar também têm mais riscos de desenvolver a doença novamente.